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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Matéria - Autor x Escritor

            Sabe aqueles momentos em que você fica divagando horas e horas sobre sua vida? Geralmente eu fico assim, mas pensando sobre coisas literárias. Numa dessas divagações eu cheguei ao dilema: a diferença entre autor e escritor. Você pode estar pensando “ué, mas não é a mesma coisa?!” Não, pelo menos do meu ponto de vista.

            Definições do dicionário:
· au.tor
(ô), s. m. 1. Aquele que é causa primária ou principal. 2. Inventor, descobridor. 3. Praticante de uma ação; agente. 4. Fundador, instituidor. 5. Escritor de obra literária, científica ou artística. 6. Dir. A parte que intenta uma demanda judicial. 7. Dir. Agente de um delito ou contravenção.
· es.cri.tor
(ô), s. m. 1. O que escreve. 2. Autor de composições de qualquer gênero literário.

Definições da Lu:
· Autor
Quem cria as tramas, os enredos, os personagens. A história em si.
· Escritor
Quem escreve (olhando assim, até parece que a parte do escritor é a de menor relevância).

     Já aconteceu de lerem algo e terem a impressão de que a historia é boa, mas foi mal trabalhada? Mal escrita? Ou acharam a escrita muito boa, mas a historia era fraca no enredo? E existem também aqueles maravilhosos casos em que tanto o enredo quanto a historia são incríveis.
     O que é pior, um enredo ruim ou uma escrita ruim? Difícil, hein? Ambos são igualmente frustrantes (embora eu ache que uma escrita ruim seja o pior de tudo). E como eu não posso falar desse assunto sem dar alguns exemplos palpáveis para vocês, vou comparar algumas obras.

Bom enredo, escrita ruim:
Cidade dos Ossos – Cassandra Clare

       É uma série da qual eu só li o primeiro livro e por isso, só falarei dele.
       Nesse primeiro livro Cassandra Claire tinha um tesouro em mãos, uma trama com romance, suspense, ação, intrigas, revelações de tirar o fôlego. E o que ela fez? Nada.
       O livro é fraco, parado. Limpo e seco. Cassandra foi infeliz ao prolongar em demasia uma historia que se tivesse sido levada direto ao ponto, teria sido genial. Eu só me empolguei com o livro, lá pelas cento e cinqüenta ultimas paginas, que foi quando Cassandra bombardeou o leitor com informações vindas de tantos lados e tantas cenas de ação acontecendo, que eu fiquei até zonza. Ela não soube escrever, não soube trabalhar a beleza de enredo que tinha em mãos. Enrolou, enrolou e enrolou. Não soube distribuir e apresentar as revelações, não deixou pistas para que os leitores tivessem aquele mágico momento de descoberta, de ter especulações que se provassem corretas. Algumas ela entrega de cara, outras ela joga na cara.
       Cassandra é uma ótima autora, mas uma escritora ruim.
  
Boa escrita, enredo ruim:
Crepúsculo – Stephanie Meyer

Essa série eu li toda, então posso falar de forma geral.
Sim, Meyer escreve bem. Mesmo sendo em primeira pessoa, ela nos dá um bom panorama de tudo que envolve as cenas e personagens.
Eu gosto das descrições, da ação entre uma cena e outra. Ela não é mecânica, o tempo todo tem algo acontecendo ali. O problema é o enredo. Ela nos deu uma garota submissa, um cara perfeito com uma família perfeita e um amor cego. Um conto de fadas água com açúcar. Eu particularmente gosto de algumas passagens da Bella, ainda no inicio do primeiro livro, a forma com ela pensa quando ainda está com a mente limpa. Meyer criou cenas belas, cenas encantadoras e cenas tensas na medida certa. Ela não forçou a historia, nem a subestimou. Quando Jacob causa a briga no casamento, fica um clima de “ai meu Deus D:”. Quando haviam segredos a serem revelados, ela foi dando dicas ao longo da trama, foi revelando aos poucos e mesmo assim deixando um clima de suspense no ar. A única coisa que faltou, foi ter uma boa historia para contar.
Stephanie é uma boa escritora, mas uma autora ruim.

Boa escrita, bom enredo:
Harry Potter – J. K. Rowling
           
Rowling é a menina dos olhos. O universo que ela criou e como trabalhou com ele, fizeram de Harry Potter o que ele é hoje. Imaginem se a série, com o enredo rico que possui, fosse mal escrita?
       Sua escrita é limpa, suave, vamos lendo sem perceber e sem nos importamos. J. K. é aquela escritora que nos enche de detalhes, sempre temos uma boa visão do cenário que estamos, como estão posicionados os personagens e ela faz isso sem deixar as coisas enfadonhas. Não torna a leitura mecânica daquele jeito que nos faz ler sem prestar atenção, loucos para terminamos tudo de uma vez. Ela joga pistas da trama o tempo todo, um simples ratinho apresentado no primeiro livro, se torna um dos personagens mais significativos do terceiro livro. A trama é bem amarrada, bem exposta. Ela nos apresenta o enredo de forma tão coerente, que chegamos até a ficar na duvida se aquilo tudo é realmente ficção. Harry Potter é uma obra completa, não isenta de falhas é claro, mas diante da eficiência da escritora-autora, os defeitos se tornam irrelevantes.
           
Também tem quem diga que escritor é aquele que ainda não foi publicado, e um autor já foi. Bobeira, em minha opinião, conheço pessoas que ainda não foram publicadas e que são autores e escritores maravilhosos e posso afirmar categoricamente que a falta deles no mercado editorial, é uma perda enorme para a literatura.


De modo geral, autor e escritor são sinônimos, mas essas definições são boas quando queremos dar ênfase à nossa opinião sobre determinado autor-escritor. E reflexões como essas, nos aprofundam mais no mundo literário e nos fazem aprender a analisar autores e obras com outros olhos, fazendo com que nos tornemos leitores melhores também. 

Por Luciana Araújo