Sabe aqueles momentos em que você
fica divagando horas e horas sobre sua vida? Geralmente eu fico assim, mas
pensando sobre coisas literárias. Numa dessas divagações eu cheguei ao dilema:
a diferença entre autor e escritor. Você pode estar pensando “ué, mas não é a
mesma coisa?!” Não, pelo menos do meu ponto de vista.
Definições do dicionário:
· au.tor
(ô), s. m. 1. Aquele que é causa primária ou
principal. 2. Inventor, descobridor. 3. Praticante de uma ação; agente. 4.
Fundador, instituidor. 5. Escritor de obra literária, científica ou artística.
6. Dir. A parte que intenta uma demanda judicial. 7. Dir. Agente de um delito
ou contravenção.
· es.cri.tor
(ô), s. m. 1. O que
escreve. 2. Autor de composições de qualquer gênero literário.
Definições da Lu:
· Autor
Quem cria as tramas, os enredos, os personagens. A
história em si.
· Escritor
Quem escreve (olhando assim, até parece que a parte
do escritor é a de menor relevância).
Já aconteceu de lerem algo e terem a
impressão de que a historia é boa, mas foi mal trabalhada? Mal escrita? Ou acharam a escrita muito boa, mas a historia era fraca no enredo? E existem também
aqueles maravilhosos casos em que tanto o enredo quanto a historia são
incríveis.
O que é pior, um enredo ruim ou uma escrita ruim?
Difícil, hein? Ambos são igualmente frustrantes (embora eu ache que uma escrita
ruim seja o pior de tudo). E como eu não posso falar desse assunto sem dar
alguns exemplos palpáveis para vocês, vou comparar algumas obras.
Bom enredo, escrita ruim:
Cidade dos Ossos –
Cassandra Clare
Nesse primeiro livro Cassandra Claire tinha um
tesouro em mãos, uma trama com romance, suspense, ação, intrigas, revelações de
tirar o fôlego. E o que ela fez? Nada.
O livro é fraco, parado. Limpo e seco. Cassandra
foi infeliz ao prolongar em demasia uma historia que se tivesse sido levada
direto ao ponto, teria sido genial. Eu só me empolguei com o livro, lá pelas
cento e cinqüenta ultimas paginas, que foi quando Cassandra bombardeou o leitor
com informações vindas de tantos lados e tantas cenas de ação acontecendo, que
eu fiquei até zonza. Ela não soube escrever, não soube trabalhar a beleza de
enredo que tinha em mãos. Enrolou, enrolou e enrolou. Não soube distribuir e
apresentar as revelações, não deixou pistas para que os leitores tivessem
aquele mágico momento de descoberta, de ter especulações que se provassem
corretas. Algumas ela entrega de cara, outras ela joga na cara.
Cassandra é uma ótima autora, mas uma escritora
ruim.
Boa escrita, enredo ruim:
Crepúsculo – Stephanie
Meyer
Sim, Meyer escreve bem. Mesmo sendo em primeira
pessoa, ela nos dá um bom panorama de tudo que envolve as cenas e personagens.
Eu gosto das descrições, da ação entre uma cena e
outra. Ela não é mecânica, o tempo todo tem algo acontecendo ali. O problema é
o enredo. Ela nos deu uma garota submissa, um cara perfeito com uma família
perfeita e um amor cego. Um conto de fadas água com açúcar. Eu particularmente
gosto de algumas passagens da Bella, ainda no inicio do primeiro livro, a forma
com ela pensa quando ainda está com a mente limpa. Meyer criou cenas belas,
cenas encantadoras e cenas tensas na medida certa. Ela não forçou a historia,
nem a subestimou. Quando Jacob causa a briga no casamento, fica um clima de “ai
meu Deus D:”. Quando haviam segredos a serem revelados, ela foi dando dicas ao
longo da trama, foi revelando aos poucos e mesmo assim deixando um clima de
suspense no ar. A única coisa que faltou, foi ter uma boa historia para contar.
Stephanie é uma boa escritora, mas uma autora ruim.
Boa escrita, bom enredo:
Harry Potter – J. K.
Rowling
Rowling é a menina dos olhos. O universo que ela
criou e como trabalhou com ele, fizeram de Harry Potter o que ele é hoje.
Imaginem se a série, com o enredo rico que possui, fosse mal escrita?
Sua escrita é limpa, suave, vamos lendo sem
perceber e sem nos importamos. J. K. é aquela escritora que nos enche de
detalhes, sempre temos uma boa visão do cenário que estamos, como estão
posicionados os personagens e ela faz isso sem deixar as coisas enfadonhas. Não
torna a leitura mecânica daquele jeito que nos faz ler sem prestar atenção,
loucos para terminamos tudo de uma vez. Ela joga pistas da trama o tempo todo,
um simples ratinho apresentado no primeiro livro, se torna um dos personagens
mais significativos do terceiro livro. A trama é bem amarrada, bem exposta. Ela
nos apresenta o enredo de forma tão coerente, que chegamos até a ficar na
duvida se aquilo tudo é realmente ficção. Harry Potter é uma obra completa, não
isenta de falhas é claro, mas diante da eficiência da escritora-autora, os
defeitos se tornam irrelevantes.
Também tem quem diga que escritor é aquele que
ainda não foi publicado, e um autor já foi. Bobeira, em minha opinião, conheço
pessoas que ainda não foram publicadas e que são autores e escritores
maravilhosos e posso afirmar categoricamente que a falta deles no mercado
editorial, é uma perda enorme para a literatura.
De modo geral, autor e escritor são sinônimos, mas
essas definições são boas quando queremos dar ênfase à nossa opinião sobre
determinado autor-escritor. E reflexões como essas, nos aprofundam mais no
mundo literário e nos fazem aprender a analisar autores e obras com outros
olhos, fazendo com que nos tornemos leitores melhores também.
Por Luciana Araújo